Cadê o dinheiro que estava aqui? Flamengo-PI busca se reestruturar após queda e acúmulo de dividas milionárias, ‘perdemos até nossos troféus’

Sem sede, sem time e sem troféus, assim se encontrava o Flamengo do Piauí antes dos cem primeiros dias de sua nova gestão no processo de intervenção. O  interventor do clube busca entender o processo de venda irregular da antiga sede da equipe, que nunca recebeu nada pela venda e nunca nem se quer teve patrimônio em seu nome.

Além disso, o interventor procura uma reestruturação a partir de parcerias, e, da ajuda de torcedores. Em entrevista ao Diário, o interventor e atual presidente da equipe, Dr. Jorge Cury, falou sobre sua chegada, os problemas administrativos da equipe e seus primeiros meses à frente da gestão do clube.

Cadê o dinheiro que estava aqui?

Um dos maiores mistérios que rondam o Flamengo-PI é em relação à venda de sua antiga sede ainda no ano de 2009, no qual seu processo foi totalmente questionado por diversos torcedores e sócios do clube, pois a venda era considerada totalmente fraudulenta e irregular.

Ainda no ano de 2015, um grupo de torcedores acabou por afirmar que os valores de venda da antiga sede, situada na zona sul de Teresina, giravam em torno de 18 milhões de reais, mas o então presidente e também participante do processo de venda no ano de 2009, Jankel Costa,  nunca confirmou os valores. Os torcedores afirmavam que a venda era ilegal, pois o conselho administrativo do clube não foi informado de tal ato, porém o ex-cartoleiro nega as acusações.

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O interventor da equipe comenta  que o caso é bastante nebuloso, não existem fichas sobre a venda do patrimônio da equipe e o clube nunca sequer teve esse imóvel em seu nome.

“Em nenhum balancete monetário do clube, até onde eu localizei, existe entrada ou saída desse patrimônio. Esse imóvel pertenceu ao Esporte do Lourival Parente e o Flamengo o comprou. Temos os documentos com o recibo de pagamento, porém, esse imóvel nunca foi passado para o nome do clube, e não sabemos o porquê. Não se sabe também o porquê desse imóvel ter sido transferido novamente para uma terceira empresa, relatou o gestor.

O interventor relatou que o imóvel foi repassado para uma empresa de nome Arrocha o Nó, e que logo em seguida a empresa teria repassado o patrimônio.

“O Arrocha o Nó vendeu o imóvel para o Atacadão, localizado no Bela Vista. Meu conhecimento extraoficial é de que  os valores de venda foram de 18 milhões na primeira etapa (venda do Flamengo para o Arrocha o Nó) e a segunda etapa por 9 milhões”, informou o interventor.

O grupo Arrocha o Nó foi fundado em 1999, atuando no setor de agropecuária e eventos de vaquejadas. O grupo tem um parque localizado na  BR-316 na saída de Teresina em direção a Demerval Lobão. Nossa equipe tentou entrar em contato com a empresa, porém não obtivemos respostas.  

Além de tudo, o interventor destacou que o antigo presidente, Jankel, nunca apresentou os documentos de venda, e, portanto, sem tais documentos seria impossível a venda do imóvel.

“Jankel nunca apresentou sequer o documento de venda, ao contrário, ele nega ter vendido o imóvel. Mas se não vendeu, como foi parar em mãos de terceiros?”, questionou o interventor.

Segundo ele, medidas estão sendo tomadas para que todos os  envolvidos neste caso se justifiquem e tragam as respostas sobre esse processo de venda, ele relata também que os antigos presidentes já foram acionados extrajudicialmente, mas ainda não deram nenhuma resposta.

Processo de intervenção

O interventor chegou ao clube em 19  de dezembro de 2022, após a saída do então presidente Rubens Gomes. A equipe tinha acabado de passar por um rebaixamento humilhante na Série A do Campeonato Piauiense, com 14 jogos e 13 derrotas, sendo essa a pior campanha da história da equipe. O clube também tinha diversos problemas com a Justiça do trabalho, por não pagamento de dívidas trabalhistas, e um patrimônio que simplesmente “sumiu”.

“Quando eu assumi a situação do Flamengo era vexatória, não tinha sede, não tinha uma ficha do quadro de sócios torcedores, não tinha um time. O Flamengo não tinha nada, apenas o CNPJ ativo“, relata Jorge Cury..

Segundo Cury, nem mesmo os troféus, símbolos de todas as glórias já passadas pelo clube, estavam em posse do time.

“Os troféus se encontravam na casa de um torcedor, que aliás fez um ótimo trabalho de preservação com os mesmo”, assim diz Dr. Jorge Cury.

O interventor também destacou que “Gestões anteriores fizeram diversas mudanças no estatuto da equipe, e muitas delas sem seguirem as regras propostas no regulamento administrativo“. Segundo o interventor, nenhuma mudança pode ser feita no estatuto da equipe sem a aprovação  do quadro de sócios torcedores, sendo assim, sem esse quadro, todas as mudanças feitas nas gestões anteriores são totalmente irregulares.

Com a chegada do novo interventor o Flamengo começou um processo de reestruturação e segundo ele, parcerias já estavam sendo feitas para a recuperação do clube.

No dia 31 de março, a equipe fez uma cerimônia para destacar os primeiros meses da gestão do interventor frente a equipe, lá o clube fez homenagens a antigos jogadores, além de anunciar ações como a abertura do quadro de sócio-torcedor contribuinte, lançamento de um novo uniforme e a busca por um campo para treino.

“Agora no final de março fizemos um evento para prestar contas dos cem primeiros dias de gestão,  junto a isso lançamos a nova camisa do Flamengo e tudo de acordo com o estatuto do clube. Abrimos também o quadro de sócio contribuinte, que aliás teve uma ótima recepção, e fizemos uma parceria também com uma empresa administradora de um campo, para que o time possa treinar”, assim disse o gestor.

O interventor destacou que uma das suas principais missões é a abertura do quadro de sócios do clube, pois apenas assim a equipe pode voltar a pleno funcionamento. Segundo ele, o time precisa de um quadro de sócios-torcedores ativo, para que assim estes possam eleger os possíveis administradores e mandatários do clube no futuro.

“Meu trabalho aqui é fazer com que tudo volte a organização administrativamente; e para isso precisamos recuperar o quadro de sócios, pois serão eles os que farão parte do conselho administrativo do Flamengo, assim elegendo os próximos gestores do clube”, relatou o interventor.

Pedras  no caminho

Porém, mesmo com todas as ações já feitas, o interventor ainda vê grandes problemas para que o clube volte a disputar competições. Ele destaca que a  falta de recursos é um empecilho para que o clube dispute por exemplo a  Série B do campeonato piauiense.

“A  folha salarial para uma competição deste nível, como a Série B, gira em torno de 60 mil reais, ou seja, são muitos recursos que devem ser postos para a disputa plena deste tipo de competição. Não queremos fazer como gestões anteriores que acumularam dívidas trabalhistas e jogaram sem o devido custeio. No momento procuramos parcerias para que assim possamos cobrir esses valores”, destacou Jorge Cury.

Segundo o interventor, mesmo com a aquisição de sócios-torcedores e a venda das novas camisas, o clube não conseguiu muitos recursos. A venda das camisas, por exemplo, lhes deu um lucro de apenas 2 mil reais, tendo somente o suficiente para a reforma do seu campo de treino, adquirido em parceria com uma empresa da zona leste da capital.

O clube também enfrenta problemas com sua base, já que segundo o interventor, ela estava  desativada a bastante tempo, ele explica que “a base se perdeu  junto a tudo, a sede, os recursos e os troféus […]” e completou afirmando que isso é uma das coisas que devem ser recuperadas para a equipe.

Esperança em um Futuro Melhor

O Flamengo passou e ainda passa por muitos percalços, o clube busca uma reestruturação muito complicada e que pode demorar até mesmo anos para que volte a elite do futebol piauiense como um destaque. O interventor diz que o apoio da torcida é muito importante e que eles fazem parte desse processo de reconstrução.

“Os torcedores foram muito receptivos, acreditaram no clube, compraram camisas e adquiriram nosso sócio. O Flamengo é o time com maior torcida do estado, e, com a ajuda dos torcedores, nós buscamos uma recuperação”, disse o interventor com orgulho.

O Flamengo do Piauí já foi uma das grandes potências do futebol piauiense, ninguém nega a sua grandiosidade e nem a sua importância. O clube passou por situações muito complicadas nos últimos 10 anos e tantos abalos poderiam ter lhe derrubado para sempre, mas gigantes nunca são destruídos. Nesses cem dias de intervenção o clube chegou a ficar sem muitos recursos, mas nunca foi abandonado pelo amor de sua torcida, que dura mais de um século.

Carlos Santos

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