Da glória à decadência: as vitórias e dificuldades do futebol teresinense

Falta de recursos, rebaixamentos e estádios vazios. Essas são algumas das muitas dificuldades enfrentadas pelos times da capital do Piauí dentro e fora de campo. Cenário bem longe do início próspero e passado vitorioso dos times teresinenses. Flamengo-Pi; River; Piauí Esporte Clube e Tiradentes são clubes históricos, nos quais atualmente, passam por administrações desastrosas que acabam por resultar no afastamento dos torcedores com os clubes.

“O futebol vive de vitórias e se a equipe não vence, deixa o torcedor incomodado”

Resgate histórico

O futebol chegou ao Piauí em 1905, com o primeiro clube formal da cidade, Theresinense Football Club. Com a sua crescente popularidade foram formados a Liga Sportiva Parnahybana (1917) e a Liga Piauihyense (1922), única filiada formalmente com a Confederação Brasileira de Desportos (CBD).

Com o Decreto 3199 de 14 de Abril de 1941, as ligas existentes foram convidadas a se unir em uma única entidade, fundando a Federação de Futebol do Piauí naquele ano. O Flamengo-PI que fez parte desse processo de organização do futebol Piauiense, foi fundado em 8 de dezembro de 1937, pelo senador Raimundo Melo de Arêa Leão, filho do senhor de engenho e vice-presidente da província do Piauí, Raimundo de Arêa Leão. Com apenas dois anos de existência, já se tornou campeão piauiense em 1940.

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Nos anos de 1942, 1943 e 1944 veio o primeiro tricampeonato, vitória dos três primeiros títulos. Na década de 1950 houve uma crise administrativa e o Flamengo parou por algumas temporadas, para voltar apenas em 1959, foi o período em que seu arquirrival, o River Atlético Clube, foi fundado em 1 de  março de 1946, por um grupo de estudantes do “Ginásio Leão XIII”, que se reuniram para tratar da fundação de uma sociedade desportiva, que receberia o nome de River Atlético Clube.

Suas cores são o preto, branco e o vermelho, o clube é conhecido entre outras coisas pela alcunha de o “Eterno Campeão”, em alusão ao período entre 1948 e 1965 onde conquistou 14 títulos estaduais, ao disputar 18 finais consecutivas.

Já o Piauí Esporte Clube, foi fundado em 15 de Agosto de 1948 com o nome deBuenos Aires, em homenagem ao bairro onde se originou. Filiou-se à Federação Piauiense de Futebol em 1956. Já em 1957 o clube se consagrou campeão piauiense da Segunda Divisão. Na elite, obteve dois vice-campeonatos em 1960 e 1961. Foi na década de 1960 que viveu sua melhor fase, quando chegou a conquistar um tetra campeonato estadual de forma consecutiva, de 1966 a 1969.

O mais recente, mas de historia tão feroz quanto os outros três foi a Sociedade Esportiva Tiradentes, que hoje só se encontra com o futebol feminino ativado, foi fundado no dia 30 de junho de 1959, os subtenentes e sargentos da polícia militar do Estado do Piauí decidiram fundar o “Clube Tiradentes dos Subtenentes e Sargentos da Polícia Militar do Estado do Piauí”.

Na época, o comandante da polícia militar era o coronel Pedro Borges da Silva Filho. Em 14 de setembro de 1966 o então presidente, Luís Castro Araújo, solicitou filiação à Federação Piauiense de Desportos e o pedido foi deferido em 3 de outubro, passando o representante da PM a disputar competições de esporte amador.

No início de 1972, o coronel Canuto Tupy Caldas (falecido em 2013), comandante da Polícia Militar, anunciou que o Tiradentes iria disputar o Campeonato de Futebol Profissional. Logo em sua primeira participação, foi campeão estadual, e repetiu o feito em 1974 e 1975, dividindo o troféu com o River, o clube fez participações históricas na primeira divisão do futebol nacional.

Dentro desse contexto o professor Deusdete Nunes, professor de História do Instituto Federal do Piauí (IFPI) através de uma dissertação de mestrado sobre a profissionalização do futebol piauiense, relata sobre como se deu esse processo, na qual ele considera tardio, prejudicando os times na época deixando uma herança negativa nos dias atuais.

Entrevista com o professor e Dr. de História Deusdete Barros. Foto: Carlos Santos

“Os times teresinenses, em termos de comparação com de outros Estados, sofriam com um atraso em níveis de qualidade e proficiência, dado que esse processo iniciou somente em 1961 segundo registros documentais da minha pesquisa”, relatou Deusdete Barros.

Segundo o professor, antes da profissionalização, houve uma fuga de atletas para outros centros esportivos do Brasil, na qual prejudicou o desenvolvimento do futebol na capital piauiense.

“Antônio Evangelista de Sousa, jogador do Caiçara em 1961, foi um dos primeiros jogadores piauienses que teve seu contrato realizado como atleta profissional de futebol, até então todos os atletas piauienses não eram tratados dessa forma perante a lei”, complementou Deusdete Barros.

Tempos de Glória e Decadência

O futebol piauiense, sobretudo as equipes teresinenses, tiveram seus momentos de destaque entre as décadas de 1970 e 1980, com participações importantes dos times no principal campeonato de futebol do país, segundo o historiador, jornalista e autor da coleção de livros “Memórias do Futebol Piauiense”, Severino Filho (o Buim).

As duas melhores campanhas dos times piauienses do principal campeonato nacional aconteceram em 1973 e 1975 quando o Tiradentes passou nessas duas participações para a segunda fase do campeonato conseguindo resultados expressivos. Em 1975 ganhou do América-RJ, do Palmeiras-SP, Flamengo-RJ e empatando com o Vasco da Gama-RJ, em São Januário, segundo pesquisa obtida a partir do livro “Memórias do futebol Piauiense: vol. 3” do historiador Severino Filho.

“Em 1975 o Tiradentes venceu a equipe principal do Flamengo-RJ pela Taça Brasil. A equipe rubro-negra tinha jogadores como Júnior, Jaime e Zico. E para se ter uma dimensão sobre a grandiosidade da vitória, aquela equipe do Flamengo foi o time que mais tarde venceu o campeonato intercontinental no Japão em 1981”, relatou Severino Filho.

Segundo dados bibliográficos da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), os times da capital acumularam participações no principal campeonato nacional, entre as décadas de 1970 e 1980, ao todo tem-se Flamengo-PI com 7 participações, River com 8, Piauí com 4 e Tiradentes com 5.

Severino Filho também destaca que apesar de um grande número de participações na elite do futebol brasileiro, os times teresinenses não souberam aproveitar suas oportunidades na qual já se percebia uma decadência na estrutura do futebol piauiense em comparação às outras participações.

“Em 1986 o Piauí Esporte Clube foi o último time a participar do campeonato nacional. E ainda naquele campeonato já podia se notar uma total decadência do futebol teresinense, em comparação às outras participações na Taça Brasil. Infelizmente o Piauí fez uma das piores campanhas do campeonato nacional, sendo lanterna de seu grupo”, destacou o jornalista.

River

Apesar de ter tido grandes glórias no passado, a equipe do River teve seu último grande momento de destaque no futebol brasileiro no ano de 2015, quando conseguiu acesso a série C do Campeonato Brasileiro, sendo vice-campeão brasileiro da série D naquele ano.

O estádio Albertão recebeu um grande público na final entre River-PI e Botafogo-SP da Série D de 2015. Foto: Magno Bomfim

Depois disso, a equipe passou por fortes crises, não tendo mais grande destaque nem mesmo no campeonato piauiense, sendo em 2021 uma campanha que quase culminou no rebaixamento do clube do estadual, sendo salvo por 1 ponto diante de um empate contra a equipe do Parnahyba no litoral.

O presidente da torcida organizada River Chop, Samuell Souza, ressalta as dificuldades e problemas extra campos que o time enfrenta nos últimos tempos, dificultando o retorno dos momentos de glória do “Eterno Campeão”.

“Não só o River como todos os clubes de nosso estado partem de iniciativas e apoios do poder público e privado. Infelizmente nosso estado é muito carente de investimentos no futebol, tanto profissional quanto amador. No River, tem também a questão política, que já vem atrapalhando o clube há anos, e nos últimos três anos é iminente essa queda dentro de campo”, salientou Samuell Souza.

Flamengo-PI

A equipe rubro-negra teve sua última participação nacional no ano de 2010, quando disputou a Série C do campeonato brasileiro. A equipe também fez uma venda duvidosa de sua sede no ano de 2009, quando ainda era gerida pelo Presidente Jankel Costa, que foi acusado de endividar o clube.

A equipe passou por diversas turbulências, não tendo mais destaques nem mesmo no campeonato piauiense, tendo problemas judiciais com o ministério do trabalho e sendo rebaixado do campeonato piauiense no ano de 2021.

André russo, representante do movimento Por Um Novo Flamengo, nota os problemas e dificuldades extra campos do rubro negro, mas sinaliza um possivel caminho para a volta das glórias do leão.

“O clube passa no atual momento que em dentro de 27 anos há uma destruição na qual foi acometida por vários gestores, o caminho será através de um trabalho de gestão séria e profissional, coisa que nunca existiu de verdade”, afirmou André Russo.


Piauí

O Enxuga Rato jogou em 2005 seu último campeonato nacional, a série C, contudo, o time foi lanterna de sua chave na primeira fase, assim sendo eliminado. e apesar do time ser a primeira equipe tetra campeão depois da profissionalização do futebol  piauiense, ele não consegue um título regional desde 1985, sendo sua última campanha de destaque a Copa Piauí do ano de 2012, onde a equipe foi vice-campeã. 

O clube também passa pela problemática de não possuir uma torcida organizada, provocando o distanciamento dos torcedores do clube e principalmente dos jogos.

Raimundo Lima, que é um torcedor apaixonado pelo Enxuga Rato, destaca que muito da problemática da falta de torcida e evidentemente também financeira do clube, está ligada à uma má gestão dos dirigentes.

“A falta de uma torcida dificulta, mas  não  temos por culpa dos dirigentes que não montam uma equipe competitiva e o torcedor acaba perdendo o interesse de ir ao estádio. “O futebol vive de vitórias e se a equipe não vence deixa o torcedor incomodado”, destacou Raimundo.  

Tiradentes

Tiradentes, apesar de ser a equipe com as melhores campanhas do futebol piauiense no cenário nacional, acabou por entrar em decadência ainda nos anos seguintes, com destaque em 1983, quando ainda disputava a elite do futebol sofreu a maior goleada na história da série A, perdendo por 10×1 para a equipe do Corinthians-SP.

Depois disso, jogou apenas a série C de 1990, quando foi campeão piauiense e acabou eliminado na primeira fase.  De acordo com o historiador e jornalista Severino Filho, o clube manteve seu departamento de esportes até 1995, quando decidiu deixar o futebol profissional, ficando apenas com categorias de base, e na sequência com uma equipe feminina.

“O Tiradentes foi uma equipe bastante beneficiada naquela período de Ditadura Militar muito pelo apoio financeiro de Alberto Tavares Silva, existia um elo de ligação entre o clube e o governador em termos de propaganda, pois um se associava ao outro, e com o enfraquecimento do Regime Militar, o time acabou por perder prestígio”, discorreu Severino Filho.

Uma nova esperança

O futebol teresinense com suas conturbações acabou por não ter muitos momentos de glória, acabando por deixá-los frustrados por anos pois não tinham uma visibilidade. Com poucos investimentos financeiros, baixa qualidade profissional e uma base desvalorizada, o futebol da capital piauiense, enfrenta uma crise sem precedentes, como informa o ex presidente da Associação Profissional dos Cronistas Desportivos do Estado do Piauí (APCDEP), Francisco Pereira da Costa, Chico Costa, Narrador com passagens pela a rádio poty que atualmente trabalha na FM assembleia, destacou.

“O futebol de antes, tinha um olhar maior para a prata da casa, hoje não existe um investimento no trabalho de formação de valores do Estado […] O público só voltará quando for montada uma maneira de condução dos clubes e quando surgirem resultados expressivos a nível nacional”, disse o narrador.

O ex-jogador de futebol Marciano, campeão piauiense pelo o River em 2014 e artilheiro do campeonato com 7 gols pelo Galo, vê essas problemáticas mas dá um caminho de possíveis soluções para a volta das glórias do time Rivelino e dos times da capital.

“Os problemas financeiros e administrativos acabam afastando os torcedores do clube e distanciando possíveis investidores, na qual entra a importância de uma boa gestão para montagens de elencos fortes e trazendo a volta da torcida aos estádios, isso passa pelo um investimento forte nas categorias de base”, afirmou o ex atacante.

Apesar dos diversos problemas administrativos, financeiros e estruturais, os torcedores do futebol teresinense ainda nutrem esperança na volta das antigas glórias das equipes da capital, construindo assim, uma narrativa de um passado glorioso e um presente catastrófico, mas sem nunca perder a esperança de um futuro melhor.

Carlos Santos

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